ABRAM-SE AS CORTINAS...

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31 de dez. de 2009

CARTA-POEMA DE BRESSON SOBRE OS ATORES E O TEATRO

" Realizador ou diretor não se trata de dirigir alguém, mas de dirigir a si mesmo. Nada de atores. Nada de papéis. Nada de encenação, mas a utilização de modelos encontrados na vida.
Ser em vez de parecer
Modelos: movimentos de fora para dentro.
O importante são as trocas telepáticas, adivinhação.
A cura para o terrível hábito do teatro.
A confusão desta vez estará do lado da vida e não do lado do hábito do teatro.
As proximidades possibilitam um movimento de fora para dentro?
Não falar a língua do teatro, estar nele como em um país estrangeiro, como a natureza nas cidades industriais
Árvores na entrada das fábricas.
Não copiar a vida, nem realizar movimentos estudados.
Não há relações entre um ator e uma árvore.
Eles pertencem a dois universos diferentes
Dedicar-se no POEMA EM AÇÃO ao encontro com os gestos insignificantes.

Procurar dentro de si a força que irrompe do olho.
Suprimir radicalmente as intenções nos seus modelos.
Procurar a maneira silenciosa e visível de falar dos corpos,dos objetos, das casas, das árvores, dos campos.
Evitar os excessos do kabuki,procurar a concisão do hai kai.
Quanto maior o sucesso, mais ele beira o fracasso, como a obra-prima da pintura que se
transforma em estampa para anúncios, camisetas, xícaras de café...
A mistura do verdadeiro com o falso, gera o falso.
Cave onde você está, não deslize para outros lugares, dupla, tripla camada de coisas.
Tenha certeza de ter esgotado tudo, explorado tudo o que se comunica pela imobilidade e elo
silêncio.
Extraia de seus modelos a prova de que eles existem com as estranhezas e enigmas deles.
Captar instantes, espontaneidade, frescor.
Não corra atrás da poesia. Ela penetra sozinha pelas articulações
Que o público procure, não o talento no seu rosto, mas o enigma particular de todo ser vivo.
Representação, aquilo que parece ter existência própria, fora do ator, o que pode ser palpável e não se desvanece por causa de ridículos aplausos.
Desmontar e remontar até a intensidade.
Gestos como as modulações da música. "

Robert Bresson

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