ABRAM-SE AS CORTINAS...

ABRAM-SE AS CORTINAS...

6 de jan. de 2010

SOLTAR OS CAVALOS

Nas costas, atravessando a coluna cervical, fora a fora, de uma escápula a outra;
O meu avesso grita mais que
um poste

Pingentes em forma de letras, um colar de palavras colado no corpo:

Tem dias que a boca seca, o coração fica calado, as coisas que saem assim, de mim, uma certa energia de alma que fica meio por cima da pele, descansa em inconstantes movimentos sobre nós mesmos. E o que parece ser somente um tanto de dentro que nos faz um mal - não sei das coisas da gente em mundo.

Marcada essas palavras numa das perna, mesmo que consigamos ficar de pé,
viver é lançar-se ao desconhecido

Uma frase que vai do dedo indicador de uma das mãos, percorre todo o braço, passando pelas costas, bem próximo à nuca, que arrepia, e termina no dedo indicador da outra mão:

criança a gente foi quando não sabia contar histórias com o drama da vida de homem grande. Quando a gente aprende é porque [...] o que fazemos e falar de nós mesmos!

5 de jan. de 2010

"Nós os atores... os títeres da representação...
somos o espelho do mundo!"

E ASSIM DIZIA NELSON RODRIGUES...

Uma pequena passagem de um depoimento de Nelson Rodrigues, a propósito de suas primeiras impressões sobre o teatro:
"De repente, descobri o teatro. Fui ver, com uns outros, um vaudeville. Durante os três atos, houve ali uma loucura de gargalhadas. Só um espectador não ria: - eu. Depois da morte de Roberto, aprendera a quase não rir; o meu próprio riso me feria e envergonhava. E, no teatro, para não rir, eu comecei a pensar em Roberto e na nudez violada da autopsia. Mas no segundo ato, eu já achava que ninguém devia rir no teatro. Liguei as duas coisas: - teatro e martírio, teatro e desespero. No terceiro ato, ou no intervalo do segundo para o último, eu imaginei uma igreja. De repente, em tal igreja, o padre começa a engolir espadas, os coroinhas a plantar bananeiras, os santos a equilibrar laranjas no nariz como focas amestradas. Ao sair do vaudeville, eu levava, comigo, todo um projeto dramático definitivo. Acabava de tocar o mistério profundíssimo do teatro. Eis a verdade súbita que descobrira: - a peça para rir, com essa destinação específica, é tão obscena e idiota como seria uma missa cômica"

31 de dez. de 2009



“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato....
Ou toca, ou não toca.
[...] Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.
[...] E se me achar esquisito,
respeite também.
até eu fui obrigado a me respeitar."
Clarice Lispector

DES COULEURS, LES PLUS FROIDS


Vert.
Sur le roches se sentait la brise fine e légère des grains de sable sur la peau que, peu à peu, s'épluchait.
C'était la couleur de la mer en ce jour ensoleillé.
D'haut lá, il pouvait voir tout l'immense bleu du ciel sur mes pieds et les mousses blanches des vagues de la mer, était comme les nuages de ces jours lá que nous sommes passé ensemble.
Gris est le ciel maintenat. Il pleut. Et la pluie vidange dans moi, le souvenirs d'un jour réveillé.
Couché, j'ai pleuré. Le ciel a noirci sur moi. Maintenant je ne sais plus s'il fait frois ou chaleur, s'il est de toi, mon amour ou si ça que je sens est même la douleur.
Je méprise la pluie que me méprise en graisn de sable: je turne argile et, ainsi, je suis d'autre fois dans tes mains que me moule est sculpte dans mes yeux les souvenirs d'un jour ensoleillé.
Maintenant je suis la chef-d'oeuvre de ta collection. Je me suis perdu. Je sens manque de moi et je veux mon âme de nouveau. Où je l'ai perdue? "Alguma coisa acontece no meu coração"
Ce n'est pas toi, mais moi même, moi qui est oublié où est oublié et je ne dejà pas des mot pour te dire, ni à moi même.

CARTA-POEMA DE BRESSON SOBRE OS ATORES E O TEATRO

" Realizador ou diretor não se trata de dirigir alguém, mas de dirigir a si mesmo. Nada de atores. Nada de papéis. Nada de encenação, mas a utilização de modelos encontrados na vida.
Ser em vez de parecer
Modelos: movimentos de fora para dentro.
O importante são as trocas telepáticas, adivinhação.
A cura para o terrível hábito do teatro.
A confusão desta vez estará do lado da vida e não do lado do hábito do teatro.
As proximidades possibilitam um movimento de fora para dentro?
Não falar a língua do teatro, estar nele como em um país estrangeiro, como a natureza nas cidades industriais
Árvores na entrada das fábricas.
Não copiar a vida, nem realizar movimentos estudados.
Não há relações entre um ator e uma árvore.
Eles pertencem a dois universos diferentes
Dedicar-se no POEMA EM AÇÃO ao encontro com os gestos insignificantes.

Procurar dentro de si a força que irrompe do olho.
Suprimir radicalmente as intenções nos seus modelos.
Procurar a maneira silenciosa e visível de falar dos corpos,dos objetos, das casas, das árvores, dos campos.
Evitar os excessos do kabuki,procurar a concisão do hai kai.
Quanto maior o sucesso, mais ele beira o fracasso, como a obra-prima da pintura que se
transforma em estampa para anúncios, camisetas, xícaras de café...
A mistura do verdadeiro com o falso, gera o falso.
Cave onde você está, não deslize para outros lugares, dupla, tripla camada de coisas.
Tenha certeza de ter esgotado tudo, explorado tudo o que se comunica pela imobilidade e elo
silêncio.
Extraia de seus modelos a prova de que eles existem com as estranhezas e enigmas deles.
Captar instantes, espontaneidade, frescor.
Não corra atrás da poesia. Ela penetra sozinha pelas articulações
Que o público procure, não o talento no seu rosto, mas o enigma particular de todo ser vivo.
Representação, aquilo que parece ter existência própria, fora do ator, o que pode ser palpável e não se desvanece por causa de ridículos aplausos.
Desmontar e remontar até a intensidade.
Gestos como as modulações da música. "

Robert Bresson

30 de dez. de 2009

MONÓLOGO DAS MÃOS


"As mãos servem para pedir, prometer, chamar,
conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar,
interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar,
injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar,
absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir,
reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar,
construir, escrever e trabalhar...
As mãos de Maria Antonieta, ao receber o beijo de Mirabeau,
salvou o trono da França e apagou a auréola do famoso revolucionário;
Múcio Cévola queimou a mão que, por engano não matou Porcena;
E foi com as mãos que Jesus amparou Madalena.
Com as mãos David agitou a funda que matou Golias;
as mãos dos Césares romanos decidiam a sorte dos gladiadores vencidos na arena;
Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência;
os anti-semitas marcavam a porta dos judeus com as mãos vermelhas como signo de morte!
Foi com as mãos que Judas pôs ao pescoço à corda que os outros Judas não encontram.
A mão serve para o herói empunhar a espada e o carrasco, a guilhotina;
o operário construir e o burguês destruir;
o bom amparar e o justo punir;
o amante acariciar e o ladrão roubar;
o honesto trabalhar e o viciado jogar.
Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra, uma flor ou uma granada,
uma esmola ou uma bomba!
Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia!
As mãos fazem os salva-vidas e os canhões; os remédios e os venenos;
os bálsamos e os instrumentos de tortura,
a arma que fere e o bisturi que salva.
Com as mãos tapamos os olhos para não ver,
e com elas protegemos a vista para ver melhor.
Os olhos dos cegos são as mãos.
Os mudos falam com as mãos.
As mãos colocadas na direção do submarino levam o homem para o fundo como os peixes.
E no volante da aeronave atiram-nos para as alturas como os pássaros.
O autor do "Homo Rebus" lembra que a mão foi o primeiro prato para o alimento
e o primeiro copo para a bebida;
a primeira almofada para repousar a cabeça,
a primeira arma e a primeira linguagem.
Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas.
A mão aberta, acariciando, mostra a bondade.
Masfechada e levantada mostra a força e o poder;
empunha a espada a pena e a cruz!
Modela os mármores e os bronzes;
da cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento
e da fantasia nas formas eternas da beleza.
Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza;
doce e piedosa nos afetos medica as chagas,
conforta os aflitos e protege os fracos.
O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera confissão de amor,
o melhor pacto de amizade ou um juramento de fidelidade.
O noivo para casar-se pede a mão de sua amada;
Jesus abençoava com as mãos;
as mães protegem os filhos cobrindo-lhes com as mãos as cabeças inocentes.
Nas despedidas, a gente parte,
mas a mão fica, ainda por muito tempo agitando o lenço no ar.
Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as alheias.
E nos dois extremos da vida, quando abrimos os olhos para o mundo
e quando os fechamos para sempre ainda as mãos prevalecem.
Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo,
são as mãos maternas que nos agasalhamo corpo tão pequenino.
E no fim da vida, quando os olhos já não brilham
e os sentidos desaparecem.
Ainda são as mãos de cera que continuam na morte as funções da vida.
E a imagem do Nazareno pregado na cruz
vai conosco para debaixo da terra com as nossas mãos cruzadas sobre o peito.
E as mãos dos amigos nos carregam...

E as mãos dos coveiros nos enterram!"
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O poema “Monólogo das Mãos” foi escrito a partir de um trabalho de Montaigne, recebendo tradução do dramaturgo brasileiro Oduvaldo Viana, que o inseriu em sua peça “O Vendedor de Ilusões”, escrita para Procópio Ferreira em 1931.